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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Sala de aula

O professor Paulo de Toledo Soares em sua palestra “Reflexões sobre o ensino da Física”, apresentava aos professores o texto “A história” do barômetro para que fosse feita uma reflexão a respeito da importância de se levar em conta a criatividade do aluno no processo de aprendizagem.

A “história” do barômetro

Algum tempo atrás, recebi o chamado de um colega para servir de árbitro na avaliação de uma questão de prova. Tratava-se de dar um “zero” numa questão de Física a um estudante que dizia dever tirar nota máxima, a não ser que houvesse uma conspiração do sistema contra ele. O professor e o estudante concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial e eu fui o escolhido.


Cheguei à sala do meu colega e li a questão da prova: “Mostre como é possível determinar a altura de um edifício bem alto com a ajuda de um barômetro”.

A resposta do estudante foi: “Leve o barômetro ao alto do edifício, amarre uma longa corda nele, baixe o barômetro até a rua e em seguida levante-o, medindo o comprimento da corda. O comprimento da corda é igual à altura do edifício.”

Sem dúvida era uma resposta interessante, mas merecia alguma nota? Eu disse então que o estudante tinha uma forte razão para ter a nota máxima, já que tinha respondido à questão completa e corretamente. Por outro lado, se ele tivesse a nota máxima, isso poderia contribuir para uma classificação muito boa do estudante no curso de Física e a resposta à questão não confirmava isso. Pensando desse modo, sugeri que o estudante fizesse outra tentativa de responder à questão. Não fiquei surpreso quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante também concordou.

Segundo o acordo, dei ao estudante seis minutos para responder à questão, prevenindo-o de que sua resposta deveria mostrar algum conhecimento de Física. Ao fim de cinco minutos ele não tinha escrito nada. Perguntei-lhe então se desejava desistir, e ele disse que não, que não tinha desistido. Afirmou que tinha muitas respostas para esse problema e estava justamente pensando na melhor. Desculpei-me por tê-lo interrompido e disse, por favor, para continuar. No minuto seguinte ele escreveu rapidamente sua resposta.

“Leve o barômetro para o alto do edifício e incline-se na ponta do telhado. Solte o barômetro, medindo o tempo de sua queda com um cronômetro. Daí, usando a fórmula do movimento uniformemente acelerado, s = ½ a·t2, calcule a altura do edifício.”

Nesse momento perguntei ao meu colega se estava satisfeito. Ele disse que sim e deu ao estudante praticamente a nota máxima. Ao deixar a sala, lembrei-me de que o estudante tinha dito ter outras respostas para o problema, de modo que lhe perguntei quais eram. “Oh, sim”, disse ele, “há várias maneiras de se achar a altura de um edifício alto com a ajuda de um barômetro. Por exemplo, você pode, num dia de sol, medir a sombra do barômetro, sua altura e a sombra do edifício; daí, usando uma simples regra de três, determinar a altura do edifício.”

“Ótima”, disse eu, “e as outras?”

“Sim”, disse o estudante, “há um método básico de medida do qual você vai gostar: você pega o barômetro e começa a subir as escadas. Conforme vai subindo, vai fazendo marcas na parede espaçadas do comprimento do barômetro. Então, você conta as marcas, o que lhe dará a altura do edifício em ‘unidades barométricas’. Um método muito direto. Naturalmente, se você quer um método mais sofisticado, basta que amarre o barômetro na ponta de uma corda e balance-o como um pêndulo, determinando o valor da aceleração da gravidade. Fazendo isso no alto do edifício e ao nível da rua, pela diferença dos valores encontrados pode-se, a princípio, calcular a altura do edifício.”

“Finalmente”, ele concluiu, “se você me permitir soluções que não se limitem à Física, existem muitas outras respostas, como por exemplo levar o barômetro até o edifício e bater na porta do zelador. Quando ele aparecer, você lhe diz o seguinte: ‘Caro Sr. Zelador, trago aqui comigo um ótimo barômetro. Se o senhor me disser a altura do edifício, eu lhe darei o barômetro’.”

A essa altura, perguntei ao estudante se ele realmente não sabia a resposta ao problema. Ele admitiu que sabia, mas que estava tão cansado dos professores que tentavam ensiná-lo como fazer as coisas, em vez de ensiná-lo a pensar e usar seu pensamento crítico, que resolveu protestar.

Observação: Barômetro é um instrumento destinado a medir o valor da pressão atmosférica num determinado lugar. A princípio, pode-se conhecer a altura de um edifício a partir da diferença da pressão atmosférica no alto dele e no chão.

Texto adaptado pelo Prof. Reinaldo Espinosa, a partir de um texto homônimo de Alexander Calandra.

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